Dark Patterns: a obscura realidade do designer UX/UI

21 maio, 2020

UX

No design UX/IU não vale tudo. Essa é a convicção que temos na MTP. Somos conscientes de que, no design UX (User eXperience) que trabalhamos como uma parte da garantia integral de negócios digitais (Digital Business Assurance), temos que incluir os fatores de responsabilidade e ética.

Atualmente se acredita que o ser humano programa a tecnologia e ela nos serve conforme nossas necessidades, mas esta relação não é unidirecional. A programação das máquinas e seus comportamentos repercutem de forma direta sobre a reação das pessoas. Aplicativos que ajudam nos treinamentos e no bem-estar físico, organizadores financeiros, controle de saúde para deixar de fumar… todos tratam de ajudar o usuário e de forma inequívoca influem sobre suas ações.

Em outras ocasiões, esta vontade de influir atinge seu objetivo de uma forma mais intermitente e oculta, ainda que com a mesma efetividade. Ao navegar por um e-commerce, por exemplo, é o usuário que tem o poder de decisão e a última palavra sobre a compra, mas os designs que se estendem pelo site influem de forma encoberta.

O usuário o ignora e o objetivo encoberto a ser conseguido, é alcançado.

O ser humano é uma verdadeira máquina. Seu DNA reflete uma estrutura claramente programada e o corpo está perfeitamente calibrado através do trabalho conjunto de sistemas como o sistema nervoso, sistema cardíaco ou o próprio cérebro. Tudo isso implica em que? Que o ser humano é ‘programável’, até certo ponto, da mesma forma que os dispositivos que usamos diariamente. Disciplinas como a saúde ou o a educação influem de forma positiva no comportamento dos usuários, mas é necessário não ultrapassar o limite da ética e da legalidade. Para isso, o trabalho de todos os profissionais e particularmente, dos designers de experiências de usuário, deve ser aberto e direto para evitar enganar em função dos próprios interesses.

Design comportamental

Estas técnicas de design têm um nome, design comportamental, um campo onde a psicologia, o neuromarketing e a tecnologia persuasiva somam forças para influir na conduta humana. O passo ao tangível toma a forma de interface e seus componentes de interação. Tutoriais, lembretes, planejadores ou reforço social são padrões usados para conseguir a mudança positiva. Os dark patterns, são os que convidam o usuário a tomar decisões sem seu consentimento e, às vezes, contra seus interesses.

Ninguém mais acha estranho o uso das redes sociais para influir politicamente. Todos nós nos enfrentamos com técnicas de phishing em sites web ou em nosso e-mail. Alguns até sofreram com a adição a certos jogos… O bom designer UX / UI não tem como objetivo final enganar o usuário com seus designs, mas já seja por exigência do desenvolvimento ou por intenções do negócio, as ideias acabam por se degenerar até passarem a ser padrões obscuros.

Alguns padrões

Existe um grande número destes padrões, tantos quanto à variedade de dispositivos e plataformas com as que podemos interagir. Passo a citar alguns:

  • Uma interação em um site com a irrupção de um banner que ocupa a tela onde realizamos nossa atividade ou um aviso de áudio que distrai nossa atenção e a redireciona, de forma inconsciente, para novos objetivos. O usuário perde o foco em seu objetivo primário. Isso se define como persistência.
  • Uma subscrição fácil, mas com um cancelamento, baixa ou desativação do serviço difícil ou quase impossível, de newsletters e ofertas. Isto é o que se chama obstrução.
  • Uma navegação rotineira em busca de informação concreta que nos leva a sites onde, para acessar ou continuar tendo acesso, se solicita ao usuário dar certas informações privadas ou repetir uma ação. Isso se denomina ação forçada.
  • Uma popular empresa área ‘low cost’ muda continuamente suas políticas em certos serviços (às vezes essenciais) sem que o usuário perceba e isso aumenta o preço final do bilhete. Não é uma ilegalidade, mas a companhia se aproveita da falta de cuidado de certos compradores. Em longo prazo, no entanto, tem um alto custo ético e a companhia aérea se viu envolvida em todo tipo de campanhas de descrédito. Este padrão é o do sigilo.

No link a seguir poderá ver alguns exemplos reais de dark patterns inclusive em redes conhecidas: https://www.darkpatterns.org/

Com certeza, os designers de produtos digitais têm a potestade para influir de forma positiva ou negativa sobre o comportamento do usuário. Mas todo poder implica em uma responsabilidade, neste caso, ética. O respeito pela privacidade, pelo tempo e pela vontade pessoal continua crescendo no setor digital e todos os que fazemos parte dele temos que zelar por isso.  

 

Lara Martín San Román

DBA Engineer. Departamento de Operações MTP

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